Banco Central muda projeto: saiba como isso afeta você
O Drex, que começou sendo a promessa de uma moeda digital oficial do Brasil, passou por várias mudanças e agora é bastante diferente do que foi inicialmente pensado. Lançado como “real digital”, o projeto, que deveria ser uma CBDC (Moeda Digital de Banco Central), agora se transforma em uma plataforma voltada para a tokenização de ativos financeiros.
Esse desvio de rumo aconteceu por conta de dificuldades tecnológicas que surgiram nos testes iniciais e por uma nova visão do Banco Central sobre o futuro dos meios de pagamento. Com a popularização do Pix, que já atende a várias necessidades antes esperadas do “real digital”, o cenário mudou bastante.
A jornada do Drex começou em 2020. Naquele ano, o Banco Central anunciou que estudaria a criação dessa moeda digital, alinhada a uma tendência global entre bancos centrais. O objetivo era modernizar o sistema de pagamentos, reduzir custos de transação e viabilizar novos serviços financeiros.
O nome “Drex” foi revelado em 2023 para substituir “real digital”. Cada letra tem um significado: “d” e “r” se referem ao Real Digital, “e” representa o eletrônico e “x” é sobre modernidade, ligado à tecnologia de registro distribuído (DLT).
Contudo, durante os testes, ficou claro que apenas digitalizar o real não era suficiente para suprimir as necessidades da economia brasileira. Depois de várias indefinições e a troca de liderança no Banco Central, o entendimento de que o Drex não seria apenas uma moeda digital começou a ganhar força.
Em junho de 2025, no evento Febraban Tech, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deixou claro: “O Drex não é exatamente uma CBDC como a literatura trata.” Para ele, o projeto vai muito além da simples emissão de moeda e busca criar um novo ecossistema para ativos digitais.
O desafio da privacidade
Essa mudança de direção não foi à toa. O modelo inicial do Drex enfrentou algumas limitações, principalmente em relação à privacidade das transações. O Banco Central ressaltou que as tecnologias experimentadas até então não garantiam a segurança necessária para proteger os dados pessoais dos cidadãos.
Isso significa que, ao criar essa moeda, é fundamental garantir a proteção das informações, sem expô-las e sem violar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ou o sigilo bancário. Além disso, o Banco Central precisa ter a capacidade de rastrear e verificar operações, enquanto as instituições financeiras devem conseguir se comunicar para realizar trocas de informações.
Fabio Araújo, que coordena o projeto, reconheceu em 2023 que o Drex não tinha o nível de privacidade demandado pela LGPD. Embora estivesse usando uma tecnologia blockchain permissionada (Hyperledger Besu), isso não foi suficiente. Assim, o cronograma foi ajustado, e a fase inicial do piloto foi adiada para 2025, enquanto se aprimoram os mecanismos de proteção de dados.
Tokenização sem blockchain?
Considerando esses obstáculos, o Banco Central decidiu adiar o uso da blockchain na primeira versão do Drex, prevista para 2026. A prioridade agora é a reconciliação de gravames – um controle sobre garantias para operações de crédito. Essa abordagem deve tornar a liberação de financiamentos mais eficiente, especialmente para pequenas empresas e pessoas físicas.
Essa decisão gerou opiniões divididas entre especialistas. Alguns acreditam que deixar a blockchain de lado, mesmo que temporariamente, pode acelerar o projeto. Outros, porém, alertam que isso pode desvirtuar a essência do Drex, transformando-o em um sistema controlado apenas pelo Banco Central.
Galípolo tenta encontrar um meio-termo, afirmando que a prioridade é resolver problemas concretos, sem se apegar a tecnologias específicas. Para ele, a tecnologia deve ser “agnóstica”, e a blockchain pode ser reconsiderada no futuro, caso se mostre viável.
Atualmente, o plano se divide em duas etapas. A primeira oferece uma solução mais restrita, sem tecnologia de registros distribuídos. A segunda fase busca explorar o uso de contratos inteligentes e redes descentralizadas, dependendo de como as necessidades de mercado evoluírem.
Enquanto isso, as empresas de tecnologia financeira observam atentamente. Para elas, o Drex tem o potencial de criar um ambiente inovador, assim como o Pix fez no cenário de pagamentos instantâneos. Porém, ao invés de focar apenas em transferências, o objetivo abrange crédito, investimentos e a circulação de diversos ativos.
Embora o projeto tenha enfrentado contratempos e mudanças, o Banco Central assegura que o Drex está a caminho de ser lançado. A expectativa é que em 2026 a primeira versão já esteja em funcionamento, mesma que de forma limitada. O entendimento é que o mais importante é oferecer uma solução segura e funcional, em vez de insistir em um modelo que não seja viável legalmente ou operacionalmente.
De fato, o Drex já não pode mais ser considerado um “real digital”. Ele representa a tentativa do Brasil de criar uma infraestrutura digital para tokenização, mudando a forma como o crédito e os ativos funcionam no sistema financeiro.